Em botânica,
chama-se rizoma a um tipo de caule radiciforme de alguns vegetais, como as
gramas, o bambu, a cana de açúcar, formado por uma miríade de pequenas raízes
emaranhadas, entrelaçadas, em meio a pequenos bulbo. Há vários tipos de
rizomas. O importante é que, enquanto metáfora, o rizoma sugere uma subverção
da tradicional metáfora arbórea do conhecimento .
A metáfora
tradicional da estrutura do conhecimento, a arbórea, se apresenta como uma grande árvore, cujas extensas raízes
devem estar fincadas em solo firme, com um tronco que se ramifica em muitos galhos,
estendendo-se assim pelos mais diversos aspectos da realidade. Não foi assim
que aprendemos o que é ciência? Embora seja uma metáfora botânica, o paradigma
arborescente representa uma concepção
mecânica do conhecimento e da realidade, reproduzindo a já conhecida
fragmentação cartesiana do saber, resultado das concepções científicas
modernas.
Deleuze e Guattari concebem diferentemente o
processo de produção de conhecimento. Para os filósofos, não existe um
pressuposto último que sustenta todo o conhecimento e ramificado em direção à
verdade. A estrutura do conhecimento assume forma fascicular, em que não há
ramificações, e sim pontos que se originam de qualquer parte, e se dirigem para
quaisquer pontos. O conceito de rizoma surge, assim, em Deleuze e Guattari, em
oposição à forma segmentada de se conceber a realidade, bem como ao modo
positivista de se construir conhecimento.
O paradigma rizomático pode provocar muitos
rompimentos. Um deles é com a hierarquização, fixa, centrada - tanto no aspecto do poder, quanto no aspecto das prioridades na
circulação - que é própria do paradigma arbóreo. No rizoma são múltiplas as
linhas de fuga e, portanto múltiplas as possibilidades de conexões,
aproximações. Ao romper com essa hierarquia estanque, o rizoma pede, porém, uma
nova forma de trânsito para os conhecimentos. Um trânsito transversalizado.
Princípio da
heterogeneidade: num rizoma, qualquer conexão é
possível. Ele põe em jogo um regime de signos muito diferentes, inclusive
estados de não signos, isto é, um rizoma vai além das conexões puramente
linguísticas, sendo atravessado por cadeias biológicas, políticas, culturais,
econômicas.
Princípio da multiplicidade: O rizoma é sempre
multiplicidade que não se deixa reconduzir nem ao Uno, nem ao múltiplo. Ele não
tem começo nem fim, mas sempre um meio pelo qual cresce e transborda. Constitui
multiplicidades lineares a n dimensões,
sem sujeito nem objeto. Uma tal multiplicidade não varia suas dimensões sem
mudar de natureza nela mesma e se metamorfosear. As multiplicidades são
rizomáticas e denunciam as pseudomultiplicidades arborescentes.
Princípio de ruptura a-significante: o rizoma não
supõe qualquer processo de significação ou de hierarquização. Um rizoma pode
ser rompido, quebrado em um lugar qualquer, e também retorna segundo uma ou
outra de suas linhas e segundo outras linhas: linhas de segmentaridade, de
estratificação como dimensões, mas também como linhas de fuga ou de
desterritorialização. O rizoma é sempre um devir, uma cartografia a ser traçada
sempre e novamente.
Princípio de cartografia: O rizoma procede
por uma lógica do devir, da variação, da expansão, da captura, da descoberta.
Oposto aos decalques, o rizoma se refere a um mapa que deve ser produzido,
construído, sempre desmontável, conectável, reversível, modificável, com
múltiplas entradas e saídas, podendo remeter a qualquer outro ponto em seu
território.
Princípio de
decalcomania: Os mapas podem ser copiados,
reproduzidos, porém, colocar uma cópia sobre o mapa nem sempre garante uma
sobreposição apropriada.O inverso é a novidade, ou seja, colocar o mapa sobre
as cópias. São os decalques que é preciso referir aos mapas e não o inverso. De
acordo com os filósofos Deleuze e Guattari, o rizoma é um sistema acentrado,
não hierárquico, e não significante, sem general, sem memória organizadora ou
autômato central.
São muitos os pesquisadores que utilizam esses princípios como instrumentos para pensar a educação, o currículo, as metodologias, o exercício cartográfico na pesquisa. O importante é exercitar essas noções num plano específico da educação no qual você quer problematizar, pensar.
São muitos os pesquisadores que utilizam esses princípios como instrumentos para pensar a educação, o currículo, as metodologias, o exercício cartográfico na pesquisa. O importante é exercitar essas noções num plano específico da educação no qual você quer problematizar, pensar.
Prá finalizar, recomendo os ótimo
artigos do filósofo brasileiro, Silvio Gallo, e que abordam a questão do
conhecimento, da transversalidade e da educação a partir da noção de rizoma e
que estão isponíveis virtualmente na rede..
DELEUZE, G. e GUATTARI, F. Mil Platôs: capitalismo e esquizofrenia. vol.1. 2 ed. São Paulo. Editora 34, 2011.
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