Princípios rizomáticos


 Afinal de contas, o que é um rizoma?

 Na introdução à obra Capitalismo e esquizofrenia: Mil Platôs, os filósofos franceses Gilles Deleuze e Félix Guattari apresentam a noção de rizoma. Os autores tratam da questão do livro : o livro remete à unidade, uma ramificação que pertence sempre ao mesmo. O rizoma, por outro lado, torna-se uma metáfora de grandes possibilidades para o conhecimento e aponta para a multiplicidade.

Em botânica, chama-se rizoma a um tipo de caule radiciforme de alguns vegetais, como as gramas, o bambu, a cana de açúcar, formado por uma miríade de pequenas raízes emaranhadas, entrelaçadas, em meio a pequenos bulbo. Há vários tipos de rizomas. O importante é que, enquanto metáfora, o rizoma sugere uma subverção da tradicional metáfora arbórea do conhecimento .

A metáfora tradicional da estrutura do conhecimento, a arbórea, se apresenta como uma grande árvore, cujas extensas raízes devem estar fincadas em solo firme, com um tronco que se ramifica em muitos galhos, estendendo-se assim pelos mais diversos aspectos da realidade. Não foi assim que aprendemos o que é ciência? Embora seja uma metáfora botânica, o paradigma arborescente representa uma concepção mecânica do conhecimento e da realidade, reproduzindo a já conhecida fragmentação cartesiana do saber, resultado das concepções científicas modernas.

Deleuze e Guattari concebem diferentemente o processo de produção de conhecimento. Para os filósofos, não existe um pressuposto último que sustenta todo o conhecimento e ramificado em direção à verdade. A estrutura do conhecimento assume forma fascicular, em que não há ramificações, e sim pontos que se originam de qualquer parte, e se dirigem para quaisquer pontos. O conceito de rizoma surge, assim, em Deleuze e Guattari, em oposição à forma segmentada de se conceber a realidade, bem como ao modo positivista de se construir conhecimento.

O paradigma rizomático pode provocar muitos rompimentos. Um deles é com a hierarquização, fixa, centrada - tanto no aspecto do poder, quanto no aspecto das prioridades na circulação - que é própria do paradigma arbóreo. No rizoma são múltiplas as linhas de fuga e, portanto múltiplas as possibilidades de conexões, aproximações. Ao romper com essa hierarquia estanque, o rizoma pede, porém, uma nova forma de trânsito para os conhecimentos. Um trânsito transversalizado.

 Deleuze e Guattari, na obra " Mil Platôs" abordam os princípios de um rizoma. Vamos citar alguns:

 Princípio de conexão: diferentemente das árvores ou de suas raízes, o rizoma conecta um ponto qualquer com outro ponto qualquer e cada um de seus traços não remete necessariamente a traços da mesma natureza.

Princípio da heterogeneidade: num rizoma, qualquer conexão é possível. Ele põe em jogo um regime de signos muito diferentes, inclusive estados de não signos, isto é, um rizoma vai além das conexões puramente linguísticas, sendo atravessado por cadeias biológicas, políticas, culturais, econômicas.

Princípio da multiplicidade: O rizoma é sempre multiplicidade que não se deixa reconduzir nem ao Uno, nem ao múltiplo. Ele não tem começo nem fim, mas sempre um meio pelo qual cresce e transborda. Constitui multiplicidades lineares a n dimensões, sem sujeito nem objeto. Uma tal multiplicidade não varia suas dimensões sem mudar de natureza nela mesma e se metamorfosear. As multiplicidades são rizomáticas e denunciam as pseudomultiplicidades arborescentes.

Princípio de ruptura a-significante: o rizoma não supõe qualquer processo de significação ou de hierarquização. Um rizoma pode ser rompido, quebrado em um lugar qualquer, e também retorna segundo uma ou outra de suas linhas e segundo outras linhas: linhas de segmentaridade, de estratificação como dimensões, mas também como linhas de fuga ou de desterritorialização. O rizoma é sempre um devir, uma cartografia a ser traçada sempre e novamente.

Princípio de cartografia: O rizoma procede por uma lógica do devir, da variação, da expansão, da captura, da descoberta. Oposto aos decalques, o rizoma se refere a um mapa que deve ser produzido, construído, sempre desmontável, conectável, reversível, modificável, com múltiplas entradas e saídas, podendo remeter a qualquer outro ponto em seu território.

Princípio de decalcomania: Os mapas podem ser copiados, reproduzidos, porém, colocar uma cópia sobre o mapa nem sempre garante uma sobreposição apropriada.O inverso é a novidade, ou seja, colocar o mapa sobre as cópias. São os decalques que é preciso referir aos mapas e não o inverso. De acordo com os filósofos Deleuze e Guattari, o rizoma é um sistema acentrado, não hierárquico, e não significante, sem general, sem memória organizadora ou autômato central.
          

  São muitos os pesquisadores que utilizam esses princípios como instrumentos para pensar a educação, o currículo, as metodologias, o exercício cartográfico na pesquisa. O importante é exercitar essas noções num plano específico da educação no qual você quer problematizar, pensar.

Prá finalizar, recomendo os ótimo artigos do filósofo brasileiro, Silvio Gallo, e que abordam a questão do conhecimento, da transversalidade e da educação a partir da noção de rizoma e que estão isponíveis virtualmente na rede..

 Referencias
DELEUZE, G. e GUATTARI, F. Mil Platôs: capitalismo e esquizofrenia. vol.1. 2 ed. São Paulo. Editora 34, 2011.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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